Parceria com investidores dá origem a um dos maiores grupos de saúde corporativa do país, com 1,13 milhão de vidas

25/02/2021 – Por Ana Carolina Nunes – Época Negócios

As jogadas 37 e 78 significaram a vitória de uma inteligência artificial – o AlphaGo- contra um humano no jogo chinês Go. A união dos números dá nome à healthtech que, como muitos negócios de saúde hoje, tem a inteligência artificial como base. A 3778 reuniu investidores e conseguiu levantar cerca de R$ 200 milhões e deu origem a um dos maiores grupos de saúde corporativa do país, reunindo mais de 1,13 milhão de vidas.

Médico de formação, Guilherme Salgado criou a 3778 há três anos não apenas inspirado pelas jogadas do AlphaGo, mas de olho no potencial do mercado de saúde no país, em especial a corporativa, que a empresa projeta poder alcançar cerca de 31 milhões de vidas. E o segmento vive um momento de aumento de custos, demanda cada vez maior por cuidados e atendimento preventivos, avanços em soluções inovadoras e custosas e envelhecimento da população. A pandemia acrescentou à equação um aumento da preocupação com a saúde mental.

O modelo de negócio usa todo o big data que as mais de 1 milhão de vidas podem fornecer para, por meio de ciência de dados, melhorar a gestão em saúde na ponta de negócios – clínicas, laboratórios e hospitais – e os cuidados em saúde na ponta dos usuários corporativos. Guilherme define como a união de “dados com dedo no pulso”.

A healthtech não atua como plano ou operadora. “Nosso propósito é transformar jornada em saúde, do ponto de vista de desfecho do atendimento e de custo”, diz Guilherme. Por meio do conhecimento dos dados, ele explica, a 3778 consegue ter uma posição integradora do sistema para apoio à gestão. Como a empresa não atua como fornecedora de serviços clínicos, Guilherme a define como um modelo agnóstico, ou independente, “uma vantagem para o pagador”. Um dos trabalhos é atuar nos desperdícios no setor, que ficam em torno de 12% hoje.

“Reconhecemos que essa é uma dor generalizada. Essa é uma cadeia ineficiente, que está em um ciclo vicioso de incremento de custo, criando uma desestabilidade do sistema. O setor está tendo um crescimento muito aquém, fazendo com que empresas tenham encargos maior. Precisa se tornar mais eficiente”, analisa Randal Zanetti, fundados da Odontoprev e um dos investidores da 3778.

O Grupo 3778 agora reúne as operações do Imtep, maior gestor de ambulatórios corporativos do Brasil e saúde ocupacional; da TEG Saúde, líder em programas corporativos de Atenção Primária à Saúde (APS), gestão de afastados, de absenteísmo e análise de sinistro; e da Implus Care, responsável por programas de qualidade de vida e prevenção.

A 3778 também inclui projetos em parceria com o Command Center do Hospital Sírio-Libanês, com modelo preditivo para o enfrentamento à covid-19 para hospitais canadenses e para o programa Todos pela Saúde. Foi escolhida pela Jonhson & Jonhson entre 134 startups da América Latina para desenvolver novos modelos de remuneração na cadeia de saúde. Juntas, as empresas do grupo já realizaram mais de 180 mil atendimentos por telemedicina e com o apoio de ferramentas de inteligência artificial. Têm cerca de 1.700 clientes ativos, estão em 700 cidades e fazem a gestão de 200 ambulatórios corporativos.

Com o montante levantado, o plano é escalar as soluções ampliando tecnologia e pessoas – e, “se fizer sentido”, diz Guilherme, acelerar parcerias ou aquisições. Em cinco anos, a 3778 quer estar cinco vezes maior. Futuramente, também pode ampliar sua atuação para o segmento individual e de pequena empresa. “É um segmento carente, principalmente do ponto de vista regulatório. Não existe um horizonte de possibilidade de gerir massas de populações individuais”, avalia.

Em 2020, a 3778 registrou crescimento de 70% em volume de dados e usuários únicos. Também triplicou o volume financeiro que passa por suas bases, superando o valor de R$ 3 bilhões. No segmento hospitalar e de seguradoras, a healthtech desenvolve linhas de cuidados e modelos de remuneração baseados em IA. As soluções fazem análises da jornada do paciente dentro e fora do hospital e ajudam as equipes médicas a tomar decisões de tratamentos baseadas em dados. Já as equipes de gestão podem cobrar pelo serviço com novos modelos de remuneração, também baseados em dados.

Randal Zanetti lidera o board de investidores, que tem a participação da LTS Investments e da UV Gestora de Investimentos. “Uma das coisas que atraiu no projeto da 3778 é que não esqueceram da primeira parte da palavra healthtech. Eles têm uma profundidade e um conhecimento na jornada de saúde dos pacientes. E o valor da companhia é a integração da ciência de dado a uma base robusta”, diz Randal.