De Alexandre Berger
Analisar o impacto do câncer na sociedade não é uma tarefa simples, pois envolve diversos fatores que incluem questões econômicas e sociais. Simplesmente relacionar a doença com gastos de saúde, é deixar de considerar toda a consequência que a doença traz à população de maneira geral. São valores difíceis de mensurar, já que envolvem aspectos emocionais, de qualidade de vida e de produtividade.

Qualquer projeção feita no sentido de quantificar o impacto social do câncer, provavelmente é subestimada. Por isso, estabelecer parâmetros de abordagem da doença envolve, acima de tudo, um olhar sistêmico que exige das instituições públicas e privadas perceber a maneira mais eficaz de acolhimento.

Nesse sentido, o desafio está em investir mais em prevenção para reduzir os índices ainda alarmantes da doença. Em estudo recente realizado pela Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), que cruzou informações do Sistema Único de Saúde (SUS) e de outras bases, constatou-se que o custo total do câncer no Brasil alcançou mais de R$ 68 bilhões, em 2017.

Parte desses valores estão relacionados aos investimentos com promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação de pacientes. Nessa conta somam-se as despesas com medicamentos, hospitalização e cirurgias, além dos custos considerados indiretos como morte prematura, absenteísmo e aposentadoria por invalidez.

No entanto, são os custos indiretos que exigem maior atenção. No Brasil, eles representam cerca de 72% do total apontado na pesquisa. Sendo que nos casos de morte prematura, quando acontece no início do tratamento, o resultado é ainda mais significativo, já que afeta toda a economia familiar, a produtividade e a geração de renda.

Não há dúvida que a promoção e o acesso à saúde melhoraram muito nos últimos anos. Mas não se pode deixar de considerar a curva ainda ascendente do câncer. Para se ter ideia, somente no SUS, os atendimentos de quimioterapias e de cirurgias oncológicas aumentaram 5% e 4%, respectivamente, nos últimos cinco anos.

Outro fator que precisa ser considerado nessa questão é o demográfico. O acesso mais facilitado a novas tecnologias e terapias continua concentrado nas regiões sul e sudeste. Além disso, a assistência às populações do norte e nordeste do país ainda é considerada baixa, dificultando o diagnóstico precoce e o início do tratamento.

Porém, esse não é um problema exclusivamente brasileiro. Diversos outros países emergentes enfrentam o mesmo desafio. Melhorar os níveis de diagnóstico precoce e de tratamento nos estágios iniciais da doença exige um movimento muito forte de políticas públicas, com conscientização da população e acesso a atendimento de qualidade.

No Brasil, aproximadamente 60% dos casos da doença são detectados em estágios avançados. De maneira geral, o custo do tratamento é exponencial de acordo com a gravidade do câncer, principalmente, quando se trata de pacientes mais jovens, que provavelmente teriam maior chance de cura. Além disso, o custo de investimento em novas terapias tende a ser menor no início da doença.

Isso tudo demonstra que ainda precisamos avançar muito, se quisermos reduzir esses índices. Nossos sistemas de prevenção e conscientização, sejam públicos ou privados, precisam ser ampliados, pois boa parte dos casos também estão relacionados ao estilo de vida. Fatores conhecidos como obesidade, alcoolismo e tabagismo são agravantes para o desenvolvimento do câncer.

Nesse sentido, é preciso reforçar ainda mais a importância da população desenvolver hábitos saudáveis e o papel das empresas na criação desta consciência. Certamente, o custo com prevenção é muito menor do que com tratamentos tardios. Para governos, empresas, paciente e familiares.

Sobre o autor

Alexandre Berger, médico e CEO do Grupo Implus